Caros,
Dando continuidade as entrevistas sobre o desenvolvimento do basquete em cadeira de rodas no Brasil, vamos agora conhecer as idéias do Alexandro Velho, Presidente do CEPE - Centro esportivo para Pessoas Especiais de Joinville - Santa Catarina. Jogador de basquete em cadeiras de rodas, um grande batalhador, não só pelo esporte paraolimpico, como também pela inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
LF - Alexandro Como você avalia o desenvolvimento
atual do Basquetebol em Cadeiras de Rodas no Brasil, continua sendo o
"esporte paraolímpico nº 1”?
Alexandro Velho - Obrigado Lincoln pela oportunidade em participar
dos diálogos que estão acontecendo a respeito do BCR no Brasil.
Respondendo a pergunta. Vejo com muito carinho e tristeza ao mesmo tempo. Carinho, pois em
todos os Estados que estive, nos times contra os quais joguei, os dirigentes, os
técnicos, os atletas com quem converso, todos são unanimes em demonstrar que
fazem um esforço homérico para desenvolver o esporte no Brasil. Quanto a isto
não é segredo de ninguém, independente de ser esporte paralímpico ou convencional,
subtraio aqui o futebol onde há recursos de ordem faraônica e é o esporte que o
brasileiro escolheu como sendo seus, nós do basquete em cadeira de rodas,
matamos um leão por dia para fazer acontecer. São investimentos com
equipamentos, viagens, materiais, pessoal, que para angariá-los, é muito
difícil. Mas mesmo assim. Não vejo nenhuma destas pessoas, que estão na luta
por direitos das pessoas com deficiência, e especialmente as do movimento BCR,
querem continuar apesar da dificuldade e pelo amor a este esporte, que aqueles
que conhecem sabem, é maravilhoso. Neste sentido há um carinho imenso por todos
que se doam ao auxiliar no desenvolvimento do BCR.
Em contrapartida vem a tristeza, e por que tristeza? Não há
investimentos suficientes no setor. Vejo muitas equipes que começam com boa
vontade, mas, no meio do caminho, só à vontade sem investimentos fazem com que
estes clubes quebrem. E são várias pessoas que poderiam buscar uma melhor
qualidade de vida, um modo de viver melhor e restaurar toda a autoestima. Isto
me entristece. E outra atitude que me deixa um pouco entristecido, são a falta
de calendário em nossa modalidade. Começamos os anos, imaginando, que vamos
jogar regionais, divisões nacionais, mas, não sabemos quando. Receber o aviso
com 30 dias, muitas vezes encarece em 90% o custo logístico, o que inviabiliza
muitas vezes a ida de algumas equipes as competições. Penso que para estruturar
melhor, nosso calendário deveria ser apresentado no segundo semestre do ano
corrente para acontecer no ano subsequente, isto possibilitaria um planejamento
das equipes contribuindo sim, para que todas possam buscar passagens até com um
vasto desconto, visto a antecedência do evento.
Mas não quero ser pragmático. Acredito neste esporte, assim como
acredito que há muito por acontecer até 2016. Quero ver nossa equipe principal,
masculina e feminina mandando bem nesta competição! #euacredito
LF- Você entende como importante a transmissão dos jogos pela Internet,
por que você acha que as transmissões não estão acontecendo, você acredita que
é viável fazer este tipo de transmissões?
Alexandro Velho - Informações, transmissões, há como são importantes em uma era de comunicação.
Hoje, não conseguimos ficar 2 minutos em uma fila para aguardar algo, imagina,
quando você tem intenção em ver algo que lhe interessa! Nós, aqui coloco a fala
de muitos outros que conheço, amamos o BCR, na época das transmissões, acredito
que em 2009/2010, foi um ápice. Todos que não havia chegado a divisão de
acesso, ter oportunizado as imagens em tempo real de cada partida, faziam todos
terem maior interesse pelo esporte, em poder participar destes eventos, de
estar em uma divisão do nacional. Lembro que assistia, interagia e obtinha
informações em tempo real. Sabíamos dos resultados. Isto nos aguçava. Na final
do Brasileiro da 2ª divisão em Niterói, quando soubemos que haviam plugadas
mais de 10mil pessoas foi o ápice, e era gostoso ver familiares e amigos com
possibilidade de assistir as partidas. Não saberia dizer os “porquês” que fazem
estas transmissões não acontecerem. Mas vejo como faltam em cada campeonato
algo para que os atletas possam ter informações. Mesmo que não haja
transmissão, poderíamos ter um sistema em tempo real informando o placar. Assim
como na NBB, quando não conseguíamos assistir aos jogos acompanhávamos pelo
placar eletrônico. Saber se ganha ou se perde, também faz parte do jogo! Hoje
com banda larga em quase todos os locais e com um notebook e webcam, você
consegue disponibilizar. Existem ferramentas, não vou agora me importar com a
qualidade da imagem e outras coisas. Mas sim, com baixo custo você consegue
informar, interagir e o melhor, apropriar tantos que amam esse esporte a ter a
informação, para que não fique restrita àqueles que estão participando do
evento somente.
LF - O que você pensa sobre a organização do Calendário Oficial do
Basquetebol em Cadeira de Rodas no Brasil?
Alexandro Velho - Citei em outra resposta. Calendário, como o próprio nome já diz, como o
contador diz “Ano fiscal”, como no esporte é descrito “Temporada”, enfim são
várias formas de se comunicar um calendário. Quando você administra um negócio,
seja próprio, seja de terceiros, ou seja, apenas funcionário de alguma
instituição, quando chega dezembro do ano corrente, você já planejou, 1º, 2º 3º
e está finalizando o 4º trimestre do ano seguinte. Isto é planejar com
antecedência, para então diminuir surpresas no próximo “Ano Fiscal” ou
“Temporada”.
Como no nosso caso, os investimentos escassos, cada equipe precisa se
apropriar com muita antecedência para levar suas equipes para competições, isto
tem investimento logístico, e sabemos que em um país, com dimensões
continentais como o nosso, quando você tem uma competição em um estado vizinho,
ou até mesmo em seu estado, o custo é menor, porém quando você é do Norte e sua
competição acontece no Sul, todos nós sabemos o quanto sua linha de
investimento para esta competição precisa ser incrementada.
Olhando por este prisma, ainda acredito que calendário, deve ser
apropriado no máximo no ultimo semestre do ano corrente, quando as competições
estão em andamento, desta forma as equipes finalizam o ano tendo por base onde
será a competição do próximo ano. Facilita a todos. Inclusive na questão de
projetos para captação de recursos. É apenas uma tese, mas vejo que em todos os
sistemas ao qual estamos inseridos, quando você planeja, os riscos de “apagar
incêndios” são muito menores.
LF - Como você vê
os resultados da Seleção Masculina que não a Londres em 2012, não foi no último
Mundial e também não estará no PRÓXIMO?
Vejo com bons olhos o investimento em algumas modalidades visando 2016.
Acredito que nosso Basquete, tem tudo para retomar o caminho da estrada rumo a
ir ao próximo mundial e fazer bonito em 2016. Existem ótimos jogadores nesse
Brasilzão! Precisamos é centrar esforços
e colocar grupos (equipe atuais e novas) por maiores momentos treinando juntos.
Para ai sim, desenvolver um trabalho consistente! Cada qual em seus times faz e
dá o seu melhor. Quando jogam em conjunto, eu não acredito que com poucos dias
de treinamento, possam gerar harmonia e identidade de um time (equipe) focado.
Juntar 30 atletas, mensalmente por 1 ou 2 semanas, ou a cada bimestre, enfim,
criar identidade de Seleção. Não tenho dúvidas que podemos aperfeiçoar e
maximizar uma Seleção para 2016. Temos ótimos atletas, e tenho certeza de que
vários deles tem interesse em dar seu melhor pela amarelinha!
LF - E a Seleção feminina, a que se devem os
resultados melhores que o masculino nos últimos anos?
Alexandro Velho - A seleção brasileira feminina acontece justamente o inverso que sugeri
na seleção masculina. Toda e qualquer pessoa sabe que a base da seleção
feminina tem entrosamento, tem harmonia e há muito tempo jogam juntas, treinam
juntas. Não quero dizer que devemos ter uma seleção masculina com base em um
time x no Brasil. Mas os melhores resultados da feminina é a quantidade de
treino que elas têm, e isto faz diferença sim.
LF - Na sua visão como está o investimento nas categorias de base do
Basquete em cadeira de rodas?
Alexandro Velho - A gurizada vem e isso vai acontecer de uma forma ou de outra. Quando o
clube que participa, tem a chancela do CPB para desenvolver um projeto
infantil, há recursos, agora quando esse jovem participa somente com a equipe,
e o clube é somente a equipe, quando não há recursos, ela vai se desenvolver
conforme manda a regra. Com aquilo que o clube tem a oferecer. Não há
investimento na base, ainda falta um trabalho específico para os clubes com
jovens abaixo de 23 anos, e acredito que deveria existir uma política para
desenvolvimento e investimento nessa galera. É só assim que vamos ter
resultados no médio, longo prazo.
LF - Como você vê o investimento na formação de novos profissionais, técnicos,
árbitros e classificadores em nosso país?
Alexandro Velho - Serve a mesma linha de raciocínio da resposta anterior. É preciso de
maior intercambio, entre estados, entre equipes e entre todos os envolvidos. Desenvolver e
motivar as pessoas a participar do movimento. Não é tão simples como parece.
LF - Você tomou conhecimento do lançamento do "BOM SENSO - ATLETAS
DO BASQUETE EM CADEIRA DE RODAS”. Você entende que estas mobilizações podem
contribuir para a melhoria do BCR?
Alexandro Velho - Assim como em todo e qualquer movimento, é necessária a discussão. É se
faz necessária a mobilização por parte dos interessados para que possamos
melhorar cada vez mais esse esporte que amamos e que admiramos por fazer parte
e que tanto queremos bem. Ser o esporte paralímpico nº 1 do Brasil, é
responsabilidade, é credibilidade, é orgulho a todos que fazem parte. O
movimento BOM SENSO, vem em um bom momento. Tanto para apropriar-se de
informações e obter cada vez mais informações pertinentes ao respeito das
atividades da Confederação. Vale ressaltar, em meu ponto de vista, não vamos
entrar no mérito da gestão. Estou falando como atleta, que assim, como vários outros
amigos meus, querem maior respeito. Para poderem se apropriarem e poder ver
acontecer os eventos propostos, os atletas querem, e amam jogar seus
brasileiros. Todos tem o maior interesse para que possamos melhorar! Ser os
melhores e poder encher o peito e dizer: “SIM SOMOS O ESPORTE Nº 1 DO BRASIL E
OS MELHORES E MAIS BEM ESTRUTURADOS TAMBÉM!”.
Obrigado Alexandro Velho - por suas reflexões e contribuições!!