Você já deve ter ouvido alguém dizer que brasileiro tem dom para jogar futebol. Pode até ser exagero, mas que parece, parece. No primeiro campeonato mundial de futebol para mulheres cegas, a equipe brasileira foi montada em quatro meses e voltou campeã. Na chegada, muito barulho. É o som da vitória, do sucesso e da inclusão. Os sons das traves guiam mulheres em busca de tudo isso. "Ela sai numa boa para trabalhar, para se divertir, para estudar. O esporte fez isso de muito bom na vida dela", contou a mãe de Sirlene, Ilza Ribeiro. Sirlene é deficiente visual, formada em fisioterapia, campeã do mundo de futebol feminino para cegas. A Competição foi na Alemanha e o time brasileiro não perdeu nenhuma partida. "Isso agora vai dar um valor maior e chamar a atenção das outras meninas que vão querer jogar. Acreditar que isso é possível", disse a jogadora. O futebol para elas ainda é um caminho novo e cheio de obstáculos e em quatro meses, já rendeu um título mundial. Um início promissor, sem dúvida, mas apenas o início. Ouvir as instruções do técnico, como no momento de cobrar um pênalti, e da goleira, a única que enxerga em campo. Correr orientando-se pelo barulho de um chocalho dentro da bola. É assim que funciona o futebol para cegos. A versão feminina é novidade. Há poucas praticantes e, ao contrário do que acontece com os homens, o esporte não é disputado em grandes competições. “A gente tem que fazer com que o futebol feminino cresça para chegar às paraolimpíadas também", afirmou a jogadora Gisele. Gisele saiu do interior de São Paulo só para jogar na Urece, equipe que representou o Brasil no Mundial. O time treina no América graças a um convênio com o clube carioca, mas as atletas não recebem salários. "Tem pessoas que me ajudam, mas eu pretendo arrumar um emprego para me manter, ter minha vida pessoal aqui", contou. A madrinha
do time é a melhor do mundo Marta, que conheceu as meninas em um amistoso, antes da conquista do título. “É muito difícil, foi uma experiência que eu nunca vou esquecer”, revelou a jogadora. "Elas no primeiro treino, falaram que queriam ser a Marta cega. Dois meses depois, estavam lá com a Marta, elas perceberam que era sério", lembrou o técnico Gabriel Mayr. Ainda não há uma seleção permanente e os desafios são grandes, mas menores do que o passo que elas já deram.
Repórter: Carlos Gil
JORNAL NACIONAL (RJ) • REPORTAGEM • 25/12/2009 • 20:15:00 • GLOBO
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