De acordo com presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons, investimento para 2016 deve girar em torno de R$ 300 milhões
A glória de subir ao pódio virou rotina para o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Londres. A natação e o atletismo foram os destaques, mas o time verde-amarelo teve um bom desempenho em modalidades como a bocha, o futebol de 5, a esgrima, o judô e o goalball. Com 21 medalhas de ouro, o Brasil fez a sua melhor campanha na história da competição. A meta de ficar em sétimo lugar no quadro geral foi cumprida, com 43 medalhas - 14 pratas e oito bronzes. Para chegar a resultado tão expressivo, o trabalho do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em parceria com o governo, as Confederações e a iniciativa privada, contou com uma complexa estrutura para formar campeões. O planejamento é baseado no conceito de "teia de aranha", no qual existe uma ligação entre os projetos e os programas. De olho no quinto lugar no Rio, o investimento para o ciclo de 2013 a 2016 deve girar em torno de R$ 300 milhões.
Alguns exemplos são as seleções de jovens, o Programa Ouro e até mesmo competições como as Paralimpíadas Escolares, que representam a base do paradesporto. Na estrutura pensada para os Jogos de Londres, uma das estratégias foi realizar uma parceria com as Confederações para 20 modalidades paralímpicas. A criação dos times regionais foi um outro plano bem sucedido, que conta com o apoio dos governos dos estados envolvidos. Por enquanto, apenas Rio de Janeiro e São Paulo estão incluídos, mas há interesse de outros de participar do programa, como Minas Gerais.
Todos os nossos programas e projetos se entrelaçam formando o caminho do atleta, desde as Paralimpíadas Escolares ao mais alto rendimento, passando por eventos nacionais, seleções de jovens e adultos, até a aposentadoria. As inciativas são as mais diversas possíveis, temos o Programa Ouro na seleção de jovens, as seleções de times regionais, como o Time São Paulo e Rio, e outros projetos que promovem a renovação do esporte. O Alan (Fonteles) é um bom exemplo, foi descoberto na Paralimpíada Escolar, aos 14 anos, participou de seleções de jovens, disputou competições internacionais e participou do programa de alto rendimento até chegar ao Time São Paulo. Trouxemos ele de Belém para a capital paulista e deu no que deu, aquela vitória história sobre o Oscar Pistorius nos 200m dos Jogos de Londres, mas o melhor dele ainda está por vir, e será em 2016 - disse Andrew Parsons, presidente do CPB.
Os ingredientes para formar grandes campeões
De acordo com o dirigente, o segredo para o sucesso no esporte está no trabalho. Além de descobrir novos talentos e lapidá-los, ele afirma que é necessário realizar um plano individual com cada um dos destaques brasileiros.
- Não há uma fórmula para formar campeões, e sim uma palavra: trabalho. É preciso identificar o talento e trabalhá-lo, aliando ciência do esporte e estrutura, com os melhores profissionais e instalações. Quando chegamos a um nível como o de Daniel Dias, Terezinha Guilhermina, André Brasil e Alan Fonteles, é necessário um planejamento individual, para que o atleta atinja o máximo do seu potencial. Eu diria que a receita seria a soma de recurso, estrutura e gestão, aliado ao treinamento e, é claro, o talento. Além disso, é preciso existir a participação do atleta nesse processo, com uma preparação física, psicológica e nutricional. O Comitê Paralímpico e as Confederações dão a estrutura, criam o caminho e as condições, e o atleta deve aproveitar a oportunidade para trabalhar e se tornar um grande campeão.
Dono de recordes mundiais, paralímpicos e de medalhas, Daniel Dias brilhou na piscina do Centro Aquático de Londres. Em sua segunda participação nos Jogos, ele conquistou o
lugar mais alto do pódio em todas as provas individuais que disputou. Segundo ele, a receita para formar campeões é simples: em primeiro lugar, é preciso ter talento e, em segundo, uma estrutura para que permita desenvolver as potencialidades de cada um.
Daniel Dias
- Para começar, é preciso ter o dom, não há nada que se possa fazer sem isso. Em seguida, é preciso haver uma estrutura ao redor do atleta, oferecer um lugar adequado para os treinos, alimentação e conforto, além de um investimento na base do esporte, assim como acontece nas Paralimpíadas Escolares. Os futuros atletas de 2016 e 2020 podem ser descobertos nesses torneios - revelou Daniel.
Principal nome paralímpico da história do país, o paulista de 24 anos coleciona 15 medalhas em Jogos: 10 ouros, quatro pratas e um bronze. E está começando um novo ciclo, que termina no Rio de Janeiro, em 2016. O nadador, que começou no esporte há apenas sete anos, inspirado pelas braçadas de Clodoaldo Silva em Atenas-2004, ainda tem no currículo 19 ouros em Parapans, outros oito em Campeonatos do Mundo, dez recordes mundiais e um prêmio Laureus, o "Oscar do Esporte".
De olho no quinto lugar em 2016, Brasil repete modelo
Em Londres, a missão de ficar em sétimo lugar no quadro geral foi cumprida com sucesso. Na próxima edição dos Jogos, o Brasil busca subir dois degraus, mas não terá um trabalho fácil. O quinto lugar exige um investimento ainda maior, com mais estrutura e novos parceiros, incluindo também a iniciativa privada. Para cumprir a meta a ser traçada em 2016, a ideia é repetir o modelo de planejamento do ciclo passado.
- Vamos seguir com o planejamento do último ciclo. Planejamos o
sétimo lugar em Londres, e ele veio de forma definitiva e confortável, com três medalhas de ouro na frente da Alemanha, oitava colocada. Precisamos de mais estrutura e apoio, seja pela iniciativa privada ou pela forma de times regionais. Se o Time São Paulo fosse um país, teria ficado em nono lugar no quadro geral de medalhas. Com a estrutura atual, o quinto lugar se torna complicado. Por isso, iniciativas como a criação do centro de treinamento são fundamentais para oferecer condições dos nossos atletas treinarem, assim como a realização de eventos como as Paralimpíadas Escolares, que detectam os novos talentos - afirmou Andrew Parsons.
Centro de treinamento será legado para futuros Jogos
O primeiro centro de treinamento de paradesporto do país deve ser construído no primeiro semestre do ano que vem, em uma área do Parque do Ipiranga, em São Paulo, próximo ao Simba Safari e o Zoológico. E a previsão de conclusão das obras será até o fim de 2015. O investimento de cerca de R$ 110 milhões ainda está sendo negociado com o governo federal, além de recursos do governo do estado, o que deve girar em torno de aproximadamente R$ 150 milhões. A ideia é criar um centro completo, com instalações esportivas, alojamento e toda a parte de medicina, ciência e fisioterapia.
Será um centro multidesportivo para várias modalidades, como atletismo, natação, futebol de 5 e de 7, dentre outros. Estamos visitando centros de países como Ucrânia, China e Coreia, para trazer o que há de melhor em espaços, equipamentos e instalações. Não é algo pensado para 2016, e sim para sempre"
Andrew Parsons
- Será um centro multidesportivo para várias modalidades, como atletismo, natação, tênis, hipismo, futebol de 5 e de 7, dentre outros. Estamos na fase do projeto, visitando centros de países como a Ucrânia, China e Coreia, para que possamos trazer o que há de melhor no aproveitamento de espaços, equipamentos e instalações. Não é algo pensado para 2016, e sim para sempre, agregando as principais seleções e os novos talentos.
As Paralimpíadas do Rio serão disputadas entre os dias 7 e 18 de setembro, pouco mais de duas semanas após o fim dos Jogos Olímpicos. A 15ª edição do evento deve receber cerca de 4,2 mil atletas de mais de 160 países. Dois novos esportes, paratriatlo e paracanoagem, serão adicionados ao programa, que passa a contar com 22 modalidades.
Matéria do GLOBOESPORTE.COM